Rain, rain rain, rain.

Dia totalmente cinza e chuvoso. É estranho o fato de uma carioca ser pálida como um anêmico e gostar de tempo frio. Assim me sinto em outro lugar, não nessa cidade quente "like the hell", mas em um lugar mais sereno. Gosto disso. Há quem diga que as pessoas ficam mais deprimidas com o tempo chuvoso e nublado. Acho isso idiotisse. Eu me sinto mais lúcida no frio. Como se o gelo de fora tivesse a capacidade de equilibrar minha temperatura interna. O calor sufoca, como um abraço longo demais ou uma expressão melada de carinho. O frio é mais solitário, pleno. Não precisa de praias cheias ou programas ao ar livre para ser completo. O frio me remete solidão, mas não solidão de alma. Uma solidão agradável, um aproveitar de si mesmo. O sentir-se bem acompanhado de si. O gélido se alegra com uma xícara de café bem quente e um livro ao seu lado. Se contenta em escrever coisas desnexas e sentir-se completo com isso. O pleno de espírito sabe olhar a chuva pela janela e apreciar apenas a beleza, sem se permitir ser arrebatado pela melancolia. O paciente olha o chão molhado sem pressa, pois sua alegria não está na companhia. Está em si mesmo, na sua fé, no seu despertar e no deitar. Está em suas preces e em seus conceitos, que se permitem mudar a toda hora. Tem a consciência de que nada sabe, mas ainda assim passa seu pouco saber adiante. Não possui utopias, possui desejos. Admiro o sentimento espresso no frio. E admiro o dizer do poeta, sobre o qual tento me consolidar: "Nunca deixe que sua felicidade dependa de algo que não depende de você."