quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Leve-me.

“A jaula era sempre do lado onde ela estava.” (Clarice Lispector)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Christmas Season [4]

And I'm up here, holding on to all those chandeleers of hope

Christmas Season [3]

Those Christmas lights
Light up the street
May all your troubles soon be gone



Christmas Season [2]

Those Christmas lights, keep shining on.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Christmas Season [1]

When you're still waiting for the snow to fall
It doesn't really feel like Christmas at all.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pulling me out of great waters.

Open up the gates of love
Turn the tide and stop the flood

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

An Education

Not all education is in the books.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Com a vida-correria me desacostumei. Agora, o cheiro de esmalte me causa náuseas. Não sei bem se é o esmalte ou o calor. Me causa náuseas.

sábado, 4 de dezembro de 2010




Momentary phase.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Overdose




I hate feeling like this
I'm so tired of trying to fight this
I'm asleep and all I dream of
Is waking to You

Tell me that you will listen
Your touch is what I'm missing
And the more I hide I realize I'm slowly losing You

Comatose
I'll never wake up without an overdose of You

I don't wanna live
I don't wanna breath
'Les I feel You next to me
You take the pain I feel
Waking up to you never felt so real
I don't wanna sleep
I don't wanna dream
'Cause my dreams don't comfort me
The way You make me feel


I hate living without you
Dead wrong to ever doubt you
But my demons lay in waiting
Tempting me away

Oh, how I adore You ...
Oh, how I thirst for You ...
Oh, how I need You ...


Breathing life
Waking up My eyes
Open up


Comatose
I'll never wake up without an overdose of You.


domingo, 28 de novembro de 2010

Sinceramente.


Desde os dias de Michelangelo, os escultores escondiam os defeitos de seus trabalhos usando cera quente e pó de pedra para tapar eventuais fendas. O método era considerado trapaça e, portanto, toda escultura “sin cera” – ou seja, sem cera – era chamada de obra de arte “sincera”. A expressão pegou. Até hoje, usamos “sinceramente” para assinar as cartas, como uma garantia de que nossas palavras são verdadeiras.

(O símbolo perdido - Dan Brown)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

5:50 a.m


Abro os olhos sob o mesmo teto, todo dia
Tudo outra vez

Acordo, um tapa no relógio
A mente tá vazia, são dez pra seis
Hoje a morte do meu ego tá fazendo aniversário
Será que eu vou chegar
Chegar ao fim de mais um calendário
Eu não sei!
Eu não sei...
Eu não sei...
É tudo sempre igual.

Disseram que o Teu amor é novo a cada dia, eu pensei
Quero ouvir a Tua voz
Falar o que eu queria, são dez pra seis.

Se é pra Te servir e então matar aquela velha sede
Se é pra Te seguir e nunca mais cair na mesma rede
Eu vou!
Eu vou...
Eu vou...

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amigo é coisa pra se guardar...


Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.



Martha Medeiros

sexta-feira, 18 de junho de 2010

It's a long way.



Woke up this morning
singing an old Beatles song
We're not that strong my lord
you know we ain't that strong
I hear my voice among the others
Through the break of day...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A long time ago...



There, there baby
It's just text book stuff
It's in the ABC of growing up
Now, now darling
Oh don't lose your head
'Cause none of us were angels
And you know I love you, yeah...

Speeding Cars - Imogen Heap

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Roda gigante...

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.


Roda Viva - Chico Buarque de Holanda

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fábulas


Outros tempos

Márcio Souza

Esta história não tem Lobo nem Cordeiro.

Muito menos Fada Madrinha.

O Lobo foi caçado e transformado em tapete.

O Cordeiro trabalha hoje como funcionário do governo.

E a Fada Madrinha tem um ponto de jogo-do-bicho ali na esquina.

No tempo do Lobo e do Cordeiro, a gente podia ver as coisas bem clarinhas.

A água do riacho, onde o Cordeiro bebia, não tinha espuma de detergente. E o Lobo, ora, o Lobo falava grosso e enganava o Cordeirinho.

Mas aí a Fada Madrinha perdeu o emprego.

Ela nem morava perto do Lobo e do Cordeiro.

A Fada Madrinha morava em outra história, com Rei e Rainha e Princesinha.

O Rei sonhava em melhorar seu reino. A Rainha sonhava em viver num reino menos antigo.

A princesinha gostava de calça jeans e dos Rolling Stones.

Foi quando o reino começou a ter problemas, bem no instante em que o Cordeirinho reclamou ao Lobo que não dava para beber daquela água.

O reino estava ficando pobre e a Princesinha pediu que a Fada Madrinha fizesse uma nova calça jeans com sua varinha de condão.

Bem que a Fada Madrinha tentou.

Mas o Rei havia deixado o reino tão pobrezinho e sem dinheiro, que a Fada Madrinha não conseguiu satisfazer o desejo da Princesinha.

E a Fada Madrinha perdeu o emprego.

E o Rei perdeu o trono.

E a Rainha acordou e não gostou o que viu.

Pois o Lobo tinha virado tapete e o Cordeirinho agora era ministro do Planejamento e estava vendendo o reino ao fabricante de jeans.

A princesinha, muito triste, ficava ouvindo os Rolling Stones, em seu jeans desbotado, com vontade de dizer ao Cordeirinho:

– Você sujou a água do meu riacho, Cordeirinho.

Isso tudo porque os tempos tinham mudado.

sábado, 13 de março de 2010

Uma verdade incoveniente.



Cansado
can.sa.do
adj (part de cansar) 1 Que se cansou; fatigado. 2 Aborrecido, enfastiado. 3 Enfraquecido, extremado. 4 Trabalhoso. 5 Diz-se do terreno que perdeu a fertilidade por abuso de cultura. 6 Indefinido, vago. Estar cansado de: ter feito desde há muito tempo ou ter repetido muitas vezes a ação indicada na frase.



Hoje eu não quero ninguém. Não quero amor, não quero calor, não quero conversa nem companhia. Nem sempre se quer estar acompanhado. Mas se vier, que me venha uma companhia calada. Também não quero ouvir. Não quero saber, nem conhecer, muito menos convencer.
Hoje eu estou cansada. Cansada de mim. Cansada de forçar todo esse corpo a se erguer de uma funda cama a cada manhã, e cansado de tentar convencê-lo a caminhar durante todo o dia. E de dar coordenadas ao coração e sincronizá-lo com a face, e com os braços, e com meu corpo inteiro, para expressar os sentimentos certos, em seus devidos momentos.
Cansada também de falar da vida, de falar com todo mundo, e de dar bom dia. Cansada de dias infernais, de passar a noite tentando juntar os pedaços, ouvindo rock leve ou MPB, e me quebrar novamente na manhã seguinte. Cansada de esforço em vão, e cansada de não ter muito pelo que lutar. Acima de tudo, estou cansada das pessoas. Pessoas não são boas. Tenho de acreditar que as pessoas não são boas, pois, afinal, eu não sou boa. E se todos forem capazes de fazer o que eu faço, somos uma raça desprezível. E eu nem sou assim das piores.
Estou cansada do modismo, do sensacionalismo, do autoritarismo, das utopias, das palavras e da hipocrisia. Eu não gasto meu tempo tentando parecer feliz, ou satisfeita, ou o que quer que seja. Hoje eu estou cansada, e vou permanecer assim até o fim do dia.

sábado, 6 de março de 2010

Coco Chanel


Trabalho de português: Falar sobre a vida de uma mulher que viveu à frente de seu tempo. Minha escolha: Coco Chanel. Simplesmente me apaixonei mais ainda por esta delicada, e, ao mesmo tempo, rústica figura feminina. Relatado aqui está, então, um pouco de sua história.




"À afirmação de que havia precedido o movimento feminista, ela replicara: "À instrução da mulher consiste apenas em duas lições nunca sair de casa sem meias e nunca sair sem chapéu". À de que teria sido pioneira na arte do design de moda, ela retrucara: "A moda não é uma arte, é um negócio". À de que sua independência a tinha lançado num mundo antes dominado pelos homens, ela sentenciara: "Uma mulher que não é amada não é ninguém. A solidão pode ajudar um homem a se encontrar, mas destrói uma mulher". À de que foi uma autêntica self-made woman já no início do século, ela rebatia com histórias fantasiosas e rebuscadas sobre uma infância endinheirada e um refinado pai negociante de cavalos. E, no entanto, Gabrielle Chanel aboliu os vestidos armados em favor de um jeito de vestir prático e confortável; criou roupas e acessórios que hoje se encontram expostos em museus; sempre preferiu o trabalho à conveniência de um casamento e montou, sozinha, um império equivalente a 4,5 bilhões de dólares em valores de 1990. Mademoiselle, como ficou conhecida ao longo de 88 anos de uma agitada existência, era uma personagem dinâmica e empreendedora, sujeita a tempestades de cólera e a alfinetadas venenosas, quando se sentia ameaçada. O paradoxo marcou sua vida: era uma dama de ferro sonhadora, revolucionária com estilo clássico, ousada apesar de alérgica às grandes extravagâncias. Em sua certidão de nascimento, preenchida por dois funcionários de um hospital para indigentes da cidade de Saumur, oeste da França, consta que, no dia 20 de agosto de 1883, nasceu uma criança do sexo feminino, filha de Jeanne Devolle, 19 anos, e de Albert Chanel, 27 anos, "um casal casado". Mas o pai estava ausente e as testemunhas não assinaram o ato, porque não sabiam como fazê-lo. E, na verdade, embora Gabrielle fosse a segunda filha do par de interioranos, eles ainda não eram casados.A modista abominava sua condição de bastarda. Negava a existência dos irmãos e chegava a dar-lhes uma razoável quantia para que jamais emergissem de sua condição de pequenos negociantes. Nunca alguém ousou desmascarar na sua frente as histórias rocambolescas que ela inventava para falar de sua origem. "Nasci naquele sanatório por acaso, porque minha mãe passou mal na rua", contou certa vez. "Nasci durante uma viagem, num vagão de trem", arriscou em outra ocasião. Na realidade, o pai, Albert, era um vendedor ambulante de botões, aventais e vinhos, nas feiras livres das cidades situadas no vale do rio Loire. Jeanne, a mãe, tinha tanto medo de perdê-lo, que não hesitava em segui-lo nas intermináveis viagens, deixando os cinco filhos com sua família, não menos numerosa. Aos 32 anos, em pleno inverno rigoroso, ela morreu de asma num quarto sem aquecimento em Brive-la-Gaillarde cidadela a meio caminho entre os centros comerciais de Bordeaux e Clermont-Ferrand. Albert estava viajando. Ao voltar, levou as três filhas para o orfanato de Aubazine, o mais importante daquela região francesa. O pai nunca apareceu, como havia prometido, para buscar Julie, Gabrielle (então com 12 anos) e Antoinette. As garotas acabaram educadas por suas "tias", como Mademoiselle costumava se referir às freiras da Ordem do Sagra do Coração de Jesus. Durante mais de oito décadas, o tempo que viveu, a palavra orfanato jamais escapou de seus lábios. No entanto, os banhos de lixívia substância usada geralmente para tirar manchas em tecidos e a rígida disciplina do estabelecimento povoaram sua memória de más recordações. Suas tias eram descritas como espectros negros, de mãos secas e enrugadas, com olhar frio e distante. Graças a elas, Coco elaborou o seu conceito sobre a educação eficiente, capaz de arrepiar muitos psicólogos e pedagogos: "Tenho sido ingrata com minhas detestáveis tias", disse. "Afinal, devo a elas tudo o que tenho. Uma criança revoltada acaba se tornando uma pessoa com couraça e força. Os beijos, os carinhos, as professoras e as vitaminas transformam as crianças em adultos infelizes e doentios. As tias malvadas" acrescentou, "criam vencedores, incutindo-lhes complexos de inferioridade, embora no meu caso o resultado tenha sido um complexo de superioridade". Aos 18 anos, Gabrielle foi transferida para um pensionato e, aos 20, começou a trabalhar em um armarinho na cidade de Moulins, centro da França. Ali, cismou que seu destino era ser artista e passou a cantar as duas únicas músicas que conhecia bem no La Rotonde, um café local. As canções Ko-ko-ki-ko e Qui qu&rsquoa vu Coco (Quem foi que viu Coco) tinham refrões muito parecidos e, por causa deles, os galantes militares do 10.° Regimento de Cavalaria, assíduos freqüentadores desses concertos, apelidaram a moça de Coco depois disso, ela nunca mais foi chamada de Gabrielle. Etienne Balsan, filho de prósperos industriais do setor têxtil, fazia parte do 10.° Regimento e, quando viu a corista, se apaixonou. Seu sonho era comprar uma fazenda para criar cavalos puros-sangues, tão logo terminasse o serviço militar. Ao realizá-lo, adquirindo Royallieu uma propriedade que, em tempos passados, já tinha sido um castelo fortificado, uma abadia e um convento , convidou Coco para morar com ele. Assim, aos 23 anos, ela se transformou em uma "mastigadora de diamantes" ou "irregular", termos usados na época para designar mulheres com as quais não se casava legalmente, embora se dividisse o mesmo teto e cama. Coco também dividia as atenções de Etienne com sua concubina oficial, Emilienne d'Alençon, que havia enriquecido graças às jóias dadas pelo ex-namorado, Jacques, filho da duquesa Anne d'Uzès, a primeira mulher que obteve permissão para dirigir um automóvel na França. Ao se apaixonar pela cortesã, Jacques foi banido para a África, pela família, e ali acabou morrendo. Mas, enquanto Emilienne se cobria com enfeites, Coco se diferenciava por suas idéias bastante particulares sobre a moda dos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial. "As mulheres põem até fruteiras na cabeça. Como um cérebro pode funcionar lá embaixo?", comentava. Ela preferia acompanhar o amante Etienne ao hipódromo usando um despojado chapéu de palha, preso com um alfinete na negra cabeleira lisa. Aos vestidos sóbrios, acrescentava acessórios exóticos, como gravatas e paletós, que ia buscar no armário do companheiro. Como Etienne tinha a silhueta enxuta de um rapaz, suas roupas geralmente serviam no corpo miúdo de Coco, que tinha verdadeiro horror aos babados, plumas e rendas que ornavam o guarda-roupa feminino. Preferia adaptar trajes masculinos e, em pouco tempo, alcançou o efeito desejado. As freqüentadoras de Royallieu, a maioria artistas, esportistas e escritoras, mal faladas na sociedade moralista passaram a procurar Coco, pedindo dicas, e muitas vezes disputavam os seus famosos chapeuzinhos de palha. Até então Coco consumia boa parte do dia em caminhadas pelo campo, cochilos nos jardins e leituras leves. "Ninguém pode viver com horizontes tão estreitos", reconhecia, sempre que recordava a decisão de trabalhar, algo que o amante refutou em aceitar. No início do século, atividade remunerada era coisa para operárias ou artistas, que na maioria das vezes trabalhavam por pura necessidade. O caso de Coco era diferente, ela queria sua independência. O belo Arthur Capel, mais conhecido pelo apelido Boy, inglês amigo de Balsan, parecia compreender a moça. Ele viu Coco pela primeira vez numa caçada em Pau, no sudoeste da França e acabou conquistando-a. "Estou partindo com Boy Capel para Paris. Desculpe, mas eu o amo", ela escreveu no bilhete para o dono de Royallieu. Nada impediu, porém, que Coco e o ex-amante continuassem amigos ou mais do que isso. Na verdade, durante dois anos, ela namorou os dois homens: Balsan chegou a emprestar-lhe um apartamento, no centro da capital francesa, para que iniciasse o seu comércio; Boy Capel adiantou-lhe o dinheiro. O ano era 1909. Antoinette, a irmã preferida, e Adrienne, uma tia com a sua mesma idade, ajudaram-na na divulgação, usando seus chapéus de manhã até a noite. As mulheres, às vezes, vinham ao ateliê só para me ver de perto", contou anos mais tarde. "Eu era um bicho curioso, com um chapéu de palha sobre a cabeça e uma cabeça sobre os ombros."Os canotiers, nome desses chapeuzinhos, terminaram ilustrando uma página inteira da influente revista Les Modes. Para aumentar seu prestigio, Chanel assinou o penteado e os chapéus da atriz Gabrielle Dorziat, sua amiga dos tempos de Royallieu, que estrelava a peça Bel Ami, baseada no romance do célebre escritor francês Guy de Maupassant. Foram dois empurrões decisivos para, em 1911, a modista abandonar o pequeno estúdio e abrir sua primeira loja, mais uma vez com a ajuda financeira de Boy, no número 31 da rue Cambon, paralela ao famosíssimo Faubourg Saint Honoré, a alameda parisiense das grandes griffes. Ainda hoje, o costureiro Karl Lagerfeld assina as criações da marca Chanel no mesmo endereço. Numa das muitas entrevistas que concedeu, Coco explicou o sucesso de suas lojas da seguinte maneira: "Minha fortuna foi construída em cima daquela malha velha que eu vesti porque fazia frio em Deauville". Ela se referia ao balneário, à beira do Canal da Mancha, que servia de refúgio aos amantes das corridas de cavalos, tanto ingleses quanto franceses. O hotel mais requintado era o Normandy, onde Boy e Coco, considerados o casal da moda, alugaram a suíte mais luxuosa, para passar uma temporada. Ela já era conhecida como modista termo usado para designar os criadores de chapéus e penteados. Então, certa manhã, Coco decidiu que não vestiria uma malha do namorado, tipo suéter, pela cabeça. Quem sabe por capricho, cortou-a na frente, improvisando uma gola e um cinto com retalhos do mesmo tecido e, suprema subversão, dois enormes bolsos "na altura exata em que as mãos gostam de descansar", descreveu. Graças à diferença de estatura, a roupa de Boy, totalmente reformada, caia como se fosse um vestido. "Todos me perguntavam onde eu o havia comprado e eu respondia: "Se quiser, vendo um desses para você". Com isso, acabei vendendo dez modelos iguais". A partir daí, Chanel deixava de ser apenas modista, no antigo conceito da palavra, para se transformar em estilista. Naquele mesmo ano, 1913, inaugurou uma loja em Deauville, com estrondoso sucesso. Não era para menos: o casal Coco e Boy acabava de criar a roupa esporte, como divulgavam os colunistas. Até então, mesmo para um passeio na praia, as "fruteiras" na cabeça eram de bom-tom. Os espartilhos comprimiam as cinturas das mulheres e os vestidos se arrastavam na areia. "Uma moda totalmente inadequada", criticava Coco. Na loja, ela vendia blusas com golas rulês, inspiradas nas roupas dos marinheiros, feitas de malha e de tricô antes consideradas pouco nobres. Como repetiria depois, criando os tailleurs de tecido tweed, ela transformava a indumentária masculina em clássicos da moda feminina. Como se não bastasse as peças que desenhava, o comportamento despojado e provocador daquela mulher de 30 anos contribuía para que se tornasse uma celebridade. Por exemplo: era uma das únicas mulheres que se banhavam na praia, sempre vestida com um maiô um tanto pudico, feito com suéteres que tomara emprestados de Boy. A efervescência cultural ainda não anunciava os prenúncios da guerra, que explodiria em 1914 e mataria 8,5 milhões de pessoas em quatro anos. Quando Capel foi convocado para lutar sob a bandeira britânica, sua primeira atitude foi mandar um telegrama para a amante. Nele, instruía Coco a não fechar a butique. De fato, a Gabrielle Chanel Modas foi a única loja a permanecer aberta na cidade de Deauville durante a Primeira Grande Guerra. Quando as tropas inimigas estacionaram a apenas 30 quilômetros de Paris, a capital francesa ficou deserta. As damas da sociedade, obrigadas a abandonar suas mansões e apartamentos suntuosos, partiram para as cidades de veraneio. A Côte d'Azur, a costa no sul do país, hoje bastante badalada, ainda não era um lugar freqüentável pelos ricos. Mas Deauville sim. Sem motoristas nem mordomos, elas precisavam de roupas confortáveis, que facilitassem longas caminhadas a pé, por exemplo. Além disso, a época era de austeridade ninguém queria ostentar vestidos extremamente sofisticados. A etiqueta Chanel atendia a essas novas necessidades. Boy e Coco aproveitaram quinze dias de licença dele para abrir, em tempo recorde, mais uma loja, dessa vez na próspera Biarritz, na costa do Atlântico e a poucos quilômetros da fronteira com a Espanha. Em 1916, Coco já chefiava um exército de trezentos funcionários. Seus folgados vestidos de jérsei, um tecido barato, cujo fornecedor temia não vender para mais ninguém ao menos, para confeccionar roupas femininas, eram encomendados às dezenas pela corte de Madri. Custavam 7000 francos na época, equivalentes a cerca de 2 100 dólares de hoje. Além disso, Coco continuou a inventar moda fora do guarda-roupa. Cortou os cabelos na altura do queixo, como apenas as atrizes tinham ousado fazer; foi a primeira freqüentadora da alta sociedade a exibir a pele bronzeada pelo sol; finalmente, diminuiu o comprimento das saias, que passaram a mostrar os tornozelos.Ganhou muitos amigos, como o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o extraordinário bailarino russo Nijinsky (1890-1950). Sua confidente e também ex-amante num escandaloso caso homossexual era a esfuziante Misia Sert, uma das modelos prediletas do pintor francês Renoir, que vivia circulando pelo meio artístico europeu. O poeta Jean Cocteau deveu a Coco dezenas de tratamentos de desintoxicação viciado em ópio e pobre, ele recebeu uma mesada da amiga, até morrer em 1963, aos 74 anos. Com o compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), a estilista teve um romance que durou alguns meses e, depois, tudo terminado, ganhou mais um bom amigo. No entanto, Coco perdeu Arthur Capel. Boy queria coroar sua carreira de diplomata unindo-se à filha de um lorde inglês, Diana Lister Wyndham. Um ano depois do casamento e do fim da guerra, na véspera do Natal de 1919, ele morreu num acidente de carro. Então, Coco pendurou panos pretos nas paredes de seu quarto e cortinas da mesma cor nas janelas. A cena dramática durou minutos. Logo, ela gritou para o mordomo: "Depressa, tire me deste túmulo". Para comemorar seus 40 anos, em 1923, Coco lançou aquele que seria o perfume mais famoso de sua griffe, o

Chanel N.° 5. "Uma mulher que não usa perfume não tem futuro", repetia as palavras do poeta francês Paul Valéry (1871-1945). O químico Ernest Beaux usou nada menos que oitenta substâncias para satisfazer as exigências de Chanel e acabou lhe apresentando oito amostras diferentes. A escolhida por Mademoiselle foi a número 5 daí o nome que, junto com o frasco de linhas simples, revolucionou a indústria de perfumaria. Três anos mais tarde, surgia outro ícone de Chanel: o tradicional vestidinho preto de crepe com mangas justas e compridas, que ela aconselhava todas mulheres a ter no armário, como garantia de elegância. As clientes estavam acostumadas a comprar peças quase exclusivas e, muitas delas, hesitaram em levar para casa o modelo simples, aparentemente fácil de ser reproduzido. A edição americana da revista Vogue tratou de tranqüilizá-las, comparando o "pretinho" de Chanel com outro símbolo de status da época: o Ford. "Alguém não compraria um carro sob o pretexto de que ele não se diferencia de outro da mesma marca? Ao contrário. Essa semelhança garante sua qualidade", saiu publicado. O segundo homem que Coco amou foi Hugh Richard Arthur Grosvenor, duque de Westminster e, sem dúvida, a maior fortuna da Inglaterra. A estilista se inspirou em seus trajes para criar o tailleur, o blazer feminino usado com saia, sobre o qual suas manequins carregavam colares de pérolas falsas e outras bijuterias barrocas enquanto, nas ruas, as mulheres não arriscavam comparecer a um compromisso elegante sem usar enfeites de pedras preciosas. "Deve-se misturar o falso com o verdadeiro", sentenciou Coco Chanel. "Pedir a alguém que só use jóias verdadeiras é como pedir que se cubra apenas com flores de verdade, no lugar de vestir uma roupa estampada florida". Foi o duque que apresentou Coco ao primeiro-ministro britânico Winston Churchill, quando a Europa passou a enfrentar uma nova tragédia: a Segunda Guerra Mundial. Graças a esse contato, a estilista se embrenhou numa grotesca operação, chamada modelhut, "chapéu da moda" em alemão. A França tinha assistido perplexa à marcha dos soldados de Hitler sob o Arco do Triunfo, em Paris. As butiques Chanel estavam todas fechadas e à venda só se encontravam os frascos de N.° 5. Coco mudou sua residência para o Hotel Ritz onde viveu até morrer, que então também hospedava o alto comando alemão. Uma ligação amorosa com o cartunista Paul Iribe semeou em sua mente, antes alienada dos assuntos políticos, idéias próximas do nazismo, segundo as quais não havia maiores problemas na presença germânica. Coco estava certa de que poderia convencer Churchill a "ao menos ouvir" uma proposta de paz alemã. Por isso, viajou a Madri, na esperança de se encontrar com o primeiro-ministro na embaixada britânica. O encontro nunca aconteceu. Mas o envolvimento com os alemães lhe valeu três horas de interrogatório, suspeita de ter colaborado com o pessoal de Hitler. Dos tempos de guerra até 1953, as lojas Chanel permaneceram com portas cerradas, por decisão da proprietária, que passou uma longa fase longe dos desfiles. Só aos 70 anos, ela reinaugurou seu ateliê, sem precisar de esforço para conquistar clientela. Ali, trabalhou diariamente oito horas, durante dezesseis anos, Inclusive aos sábados. Mas foi num domingo, 10 de janeiro de 1971, que Coco Chanel morreu um dia da semana que ela dizia odiar: "Só aos domingos eu não invento nada" justificava."

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ausência


"Então devagar ela se sentou calma no sofá. Sem apoiar as costas. Só para descansar. Não, não estava zangada, oh nem um pouco. Mas o ponto ofendido no fundo dos olhos estava maior e pensativo. Olhou o jarro. "Cadê minhas rosas?", disse então muito sossegada.
E as rosas faziam-lhe falta. Haviam deixado um lugar claro dentro dela. Tira-se de uma mesa limpa um objeto e pela marca mais limpa que ficou então se vê que ao redor havia poeira. As rosas haviam deixado um lugar sem poeira e sem sono dentro dela. No seu coração, aquela rosa, que ao menos poderia ter tirado para si sem prejudicar ninguém no mundo, faltava. Como uma falta maior.
Na verdade, como a falta. Uma ausência que entrava nela como uma claridade. E também ao redor da marca das rosas a poeira ia desaparecendo."

- Clarice Lispector, Laços de Família - A imitação da rosa.

domingo, 31 de janeiro de 2010

A dor que dói mais


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


Martha Medeiros

terça-feira, 19 de janeiro de 2010


"O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo, saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga que alguém pediu na mesa próxima."

- Mário Quintana.


P.s: Bem enfática a frase o pôster, neh?
 
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